Salvador aposta em mobilidade urbana integrada e sustentável, mas desafios persistem

Salvador vive um momento de transição na mobilidade urbana. Com a combinação de grandes obras de infraestrutura, integração entre modais e políticas voltadas para a sustentabilidade, a capital baiana tenta reverter décadas de desequilíbrios causados pelo modelo rodoviarista e pela falta de planejamento urbano. Apesar dos avanços, como o metrô eficiente e a expansão da malha cicloviária, o custo do transporte e a percepção negativa de muitos usuários ainda apontam para um caminho desafiador.

Desde 2014, Salvador conta com um sistema de metrô que se tornou referência em operação no país. As duas linhas existentes ligam regiões estratégicas da cidade, com alta frequência e integração ao sistema de ônibus. Já o BRT Salvador, em operação desde 2022, oferece transporte rápido e com menor impacto ambiental — graças à introdução de veículos elétricos na frota.

Outro destaque é o VLT do Subúrbio, em construção. A obra, com previsão de entrega até 2027, deve substituir o antigo trem do Subúrbio Ferroviário, com 36 km de extensão e 34 estações, conectando a região metropolitana ao centro urbano. O investimento ultrapassa os R$ 4 bilhões e promete beneficiar até 100 mil passageiros por dia.

A cidade também tem apostado na ampliação de sua malha cicloviária, que cresceu mais de 600% entre 2013 e 2021, alcançando cerca de 310 km. O sistema de bicicletas compartilhadas Bike Salvador, integrado ao SalvadorCard, registra milhões de viagens e reforça o compromisso com a mobilidade ativa e a sustentabilidade.

Em 2025, a Prefeitura de Salvador firmou parceria com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) para fortalecer projetos de mobilidade sustentável e eletromobilidade. A Secretaria de Mobilidade (Semob) também criou um grupo de trabalho para integrar concessionárias e órgãos públicos no esforço de modernizar terminais, renovar frotas e melhorar a experiência do passageiro.

Além disso, Salvador foi destaque internacional com o programa “Motorista Vai de Boa”, apresentado em junho na conferência Velo-city, na Polônia. A iniciativa visa treinar motoristas de ônibus para conviverem com ciclistas de forma segura e respeitosa.

Apesar dos avanços estruturais, o transporte coletivo ainda é alvo de críticas. A tarifa atual pode ultrapassar R$ 5,50 sem o subsídio municipal de R$ 0,32 por passagem — valor que, segundo a gestão municipal, está ameaçado de ser cortado por falta de recursos.

Nas redes sociais e fóruns como o Reddit, moradores de Salvador relatam insatisfação com a qualidade do serviço. “O transporte é caro e ineficiente. É difícil usar o metrô sem precisar pagar por outro meio antes”, comentou um usuário.

Salvador tem mostrado disposição política e técnica para enfrentar seus desafios históricos de mobilidade. A cidade investe em obras, sustentabilidade e educação, com potencial para se tornar referência no cenário urbano nacional.

No entanto, a equação só será plenamente resolvida quando houver maior integração física e tarifária entre os modais, garantia de qualidade no serviço e uma política de subsídio que torne o transporte verdadeiramente acessível para todos.